EUA pediram extradição; ele aguarda pedido de asilo feito a 21 países.
Acusado criminalmente e espionagem pelo governo dos Estados Unidos, o ex-técnico da CIAEdward Snowden revelou os segredos de segurança dos EUA mais falados das últimas semanas. Foram dele as informações que permitiram à imprensa internacional revelar programas de vigilância do governo americano contra a população – utilizando servidores de empresas como Google, Apple e Facebook – e também contra diplomatas e governos da União Europeia, que reagiram de forma negativa.
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As revelações iniciais, publicadas no início de junho nos jornais “The Guardian” e “Washington Post”, levou Snowden a ser ostensivamente procurado pelas autoridades americanas. A primeira informação de seu paradeiro o colocou em um quarto de hotel emHong Kong, onde ficou escondido até os EUA pedirem sua extradição e pressionarem a China a cumprir o pedido.
No dia seguinte à exigência de extradição, Snowden embarcou em um voo para Moscou, no dia 23 de junho. Desde então, acredita-se que ele segue na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, na capital russa. Ele está em um "limbo" jurídico, uma vez que não tem documentos para entrar em território russo – seu passaporte foi revogado pelos EUA.
A viagem foi feita com o apoio do WikiLeaks, de Julian Assange, que enviou Sarah Harrison , uma das militantes do grupo, para acompanhá-lo.
Da Rússia, Snowden pediu asilo político a 21 países. O primeiro teria sido o Equador, cujas autoridades se mostraram dispostas a concedê-lo assim que o ex-analista de informática se encontrar em território equatoriano – Julian Assange está refugiado há um ano na embaixada do país em Londres.
Edward Snowden, ex-funcionário da CIA que denunciou monitoramento de informações (Foto: Reprodução Globo News)
Entre os países aos quais Snowden pediu asilo político está o Brasil. A embaixada brasileira em Moscou recebeu a solicitação, mas segundo o Itamaraty, "no momento, não há intenção de responder” ao pedido.
Em meio às especulações sobre seu destino, o avião do presidente Evo Morales teve que pousar em Viena após ter sua passagem no espaço aéreo da Espanha e outros países europeus impedida por uma suspeita de que Snowden estaria na aeronave. Ele não foi encontrado no avião. O incidente causou protestos de Morales, que afirmou não ser criminoso.
No dia 1º de julho, Snowden rompeu seu silêncio anterior e afirmou que, apesar da intensa pressão de Washington, se sente livre para divulgar mais informações confidenciais. Ele declarou ainda que se sente ilegalmente perseguido pelo governo americano.
"Dada as circunstâncias, é improvável que eu beneficie de um julgamento justo ou de um tratamento apropriado antes do julgamento", afirmou, acrescentando que corre risco "de prisão perpétua ou pena de morte".
Snowden também acusou o presidente Barack Obama de ter ordenado que seu vice-presidente, Joe Biden, pressionasse os líderes dos países aos quais pediu asilo para conseguir sua extradição.
Monitoramento da população
Snowden teve acesso às informações reveladas quando prestava serviços terceirizados para a Agência de Segurança Nacional (NSA) no Havaí. Ao procurar os jornais para fazer as revelações, ele deixou o estado americano e seguiu para Hong Kong.
O jornal “The Guardian” revelou que os serviços secretos de segurança norte-americanos já rastreiam chamadas de telefones celulares da operadora Verizon e informações da internet oriundas de companhias como o Google e o Facebook. Segundo o "Washington Post" as autoridades federais dos EUA têm usado os servidores centrais destas empresas para ter acesso a e-mails, fotos e outros arquivos dos usuários, permitindo a analistas rastrear movimentos e contatos das pessoas.
A informação a respeito dos serviços secretos desencadeou um interminável debate nosEstados Unidos e no exterior sobre o crescimento do alcance da NSA, que expandiu seus serviços de vigilância dramaticamente na última década. Agentes norte-americanos garantem que a NSA atua dentro da lei.
TV mostra imagem de Edward Snowden durante noticiário em café no aeroporto de Moscou nesta quarta-feira (26) (Foto: Sergei Karpukhin/Reuters)
A decisão de Snowden de revelar sua identidade, bem como seu rosto e outros dados pessoais, reforça o apelo deste que já é um dos maiores casos de vazamento de dados secretos do governo norte-americano na história, e aumenta ainda mais o constrangimento do presidente Barack Obama.
Ao se apresentar ao mundo, ele disse que se sentiu na obrigação de denunciar, mesmo a um custo pessoal, os descomunais poderes de vigilância acumulados pelo governo dos EUA. Ele acrescentou que poderia ter permanecido anônimo, mas que considerou que sua mensagem teria mais ressonância se viesse de uma fonte identificada.
"O público precisa decidir se esses programas e políticas são certos ou errados", disse Snowden ao The Guardian em um vídeo de 12 minutos divulgado pelo site do jornal londrino.
Snowden também sabe que sua opção o expõe demais às autoridades norte-americanas. O Guardian o comparou a Bradley Manning, um soldado agora em julgamento por supostamente ajudar forças inimigas, que vazou para o Wikileaks documentos militares sigilosos.
O atual espião afirmou que deixou a namorada no Havaí sem contar a ela para onde iria, e se disse ciente do risco que corre, mas pensou que toda a mobilização em torno da sua descoberta faria o risco valer a pena.
"Eu estou disposto a me sacrificar porque eu não posso, em sã consciência, deixar que o governo dos Estados Unidos destrua a privacidade, a liberdade de Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo, tudo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo."
Espionagem contra a União Europeia
Três semanas após as primeiras revelações, a revista alemã “Der Spiegel” publicou reportagem afirmando que a União Europeia era um dos "objetivos" da NSA, acusada de monitorar informações em todo o mundo.
A publicação sustentou as acusações com documentos confidenciais a que teve acesso graças às revelações de Snowden.
Em um dos documentos, com data de setembro de 2010 e considerado "estritamente confidencial", a NSA descreve como espionou a representação diplomática da UE em Washington.
Para executar as atividades de espionagem, microfones teriam sido instalados no edifício e a agência teria entrado na rede de informática, o que permitia a leitura dos e-mails e documentos internos.
Desta maneira também foi vigiada a representação da UE na ONU, segundo os documentos, nos quais os europeus são classificados de 'objetivos a atacar'.
A NSA chegou a ampliar as operações até Bruxelas. "Há mais de cinco anos", afirma a Der Spiegel, os especialistas em segurança da UE descobriram um sistema de escuta na rede telefônica e de internet do edifício Justus-Lipsius, sede principal do Conselho da UE, que alcançava até o quartel-general da Otan na região de Bruxelas.
A representação da UE na ONU também foi objeto de uma vigilância similar, segundo a revista.
Em 2003, a UE confirmou a descoberta de um sistema de escutas telefônicas nos escritórios de vários países, incluindo Espanha, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Áustria e Itália.
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, se mostrou "profundamente preocupado e impactado com as acusações de espionagem das autoridades americanas nos escritórios da UE".
Ele disse que se as acusações forem comprovadas, isto prejudicaria consideravelmente as relações entre UE e Estados Unidos. Schulz pediu "um esclarecimento completo e informações adicionais rápidas" das autoridades americanas.
Em resposta, a Direção Nacional de Inteligência (ODNI) americana disse que os Estados Unidos responderão através da via diplomática ao pedido de explicações da UE.
"O governo americano responderá de maneira adequada, por via diplomática e através do diálogo Estados Unidos/União Europeia entre especialistas da inteligência, que os Estados Unidos propuseram instaurar há algumas semanas", afirmou a ODNI em um comunicado.
Fonte: G1
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