domingo, 23 de fevereiro de 2025

Hiperstições e o Futuro Distópico: Como Ideias Obscuras Moldam o Mundo?


Nick Land e Curtis Yarvin são figuras enigmáticas cujas ideias, embora obscuras, têm influenciado profundamente o pensamento de círculos intelectuais, tecnológicos e políticos. Eles são os arquitetos de conceitos que, à primeira vista, parecem saídos de um romance de ficção científica ou de um Grimório ocultista, mas que, na realidade, estão moldando o futuro de maneiras perturbadoras. Entre essas ideias está o aceleracionismo, o neorreacionarismo, e um conceito menos conhecido, mas igualmente poderoso: a hiperstição.


Nick Land e o Aceleracionismo Negro
Nick Land é um filósofo britânico que ganhou notoriedade na década de 1990 como parte do Cybernetic Culture Research Unit (CCRU), um grupo de pesquisa da Universidade de Warwick que explorava interseções entre filosofia, tecnologia, cultura e ocultismo. Land é frequentemente associado ao aceleracionismo, uma corrente de pensamento que defende a aceleração das forças tecnológicas e capitalistas como meio de desestabilizar e transcender o status quo.

O aceleracionismo de Land é frequentemente descrito como "negro" ou "dark" porque ele abraça uma visão niilista e apocalíptica da realidade. Ele vê o capitalismo e a tecnologia como forças autônomas e quase-lovecraftianas que estão além do controle humano, mas que podem ser usadas para destruir estruturas sociais existentes e criar algo novo, mesmo que esse "novo" seja caótico ou distópico. Em seus escritos, Land frequentemente usa linguagem poética e densa, misturando filosofia, ficção científica e ocultismo para descrever um mundo onde a tecnologia e o capitalismo são forças quase demoníacas.

Uma de suas frases mais emblemáticas reflete essa visão sombria:
"A maior verdade é que a própria criação é o maior crime: a catástrofe final; nem projetada nem fabricada, mas nascida do casamento de dois vazios, o vazio que é mais do que algo, mas menos do que nada, surgindo do vazio dependente que é a fenda que chamamos de universo."

Para Land, a criação do universo foi um erro ou um crime, e a humanidade está presa em um ciclo de violência e destruição. Ele vê a tecnologia e o capitalismo como forças que podem acelerar esse processo, levando a uma "singularidade" onde a humanidade como a conhecemos deixa de existir, substituída por algo novo e estranho.


Curtis Yarvin e a "Catedral"
Curtis Yarvin, também conhecido pelo pseudônimo Mencius Moldbug, é um teórico político e escritor que desenvolveu a ideia da "Catedral". A Catedral, segundo Yarvin, é uma metáfora para a elite intelectual e burocrática que controla a narrativa cultural e política no Ocidente. Ele argumenta que essa elite é uma espécie de "religião secular" que impõe suas visões progressistas e igualitárias sobre a sociedade, sufocando dissidências e criando uma cultura de conformidade.

Yarvin é um defensor do neorreacionarismo (NRx), um movimento que rejeita a democracia liberal e defende um retorno a formas de governo mais hierárquicas e autoritárias. Ele é frequentemente associado a figuras como Peter Thiel, que financiou sua empresa de software, e Elon Musk, que já expressou simpatia por algumas de suas ideias.

Hiperstições: Ficções que se Tornam Realidade
No cerne das ideias de Nick Land e do CCRU está o conceito de hiperstição. A hiperstição é a capacidade dos humanos de criar seu próprio futuro através de narrativas e crenças que, ao serem adotadas, se tornam realidade. Em outras palavras, são ficções que se autorrealizam, simplesmente porque nós as levamos à vida por meio da imaginação e da ação.

Superstição vs. Hiperstição: Enquanto a superstição é uma crença irracional em forças sobrenaturais, a hiperstição é uma crença racional (ou pseudo-racional) em ficções que, ao serem adotadas, alteram a realidade. Por exemplo, a ideia de que "o capitalismo é inevitável" pode ser uma hiperstição, pois, ao acreditar nisso, as pessoas agem de maneiras que reforçam o capitalismo como sistema dominante.

Ficção que se torna realidade: A hiperstição sugere que o futuro não é algo fixo, mas algo que pode ser "conjurado" através de narrativas e crenças. Isso tem ressonâncias com o ocultismo, onde palavras e ideias são vistas como tendo poder real para alterar o mundo.

Para Land, a hiperstição é uma ferramenta para acelerar o colapso da ordem atual e criar algo novo. Ele vê a tecnologia e o capitalismo como forças hipersticiosas: ideias que foram "conjuradas" pela humanidade e que agora operam de forma autônoma, moldando o futuro de maneiras que escapam ao controle humano.

Hiperstição no Vale do Silício
O conceito de hiperstição tem ressonância no Vale do Silício, onde narrativas sobre o futuro (como a singularidade tecnológica, a colonização de Marte ou a inteligência artificial geral) são abraçadas como inevitáveis. Essas narrativas, por sua vez, moldam as ações de empresários, investidores e desenvolvedores, tornando-as realidade.



Peter Thiel e Elon Musk: Ambos são exemplos de figuras que abraçam narrativas hipersticiosas. Thiel, por exemplo, investe em tecnologias que ele acredita que vão "conjurar" um futuro distópico (ou utópico, dependendo da perspectiva). Musk, por sua vez, é um mestre em criar narrativas hipersticiosas, como a ideia de que a humanidade deve se tornar uma "civilização multiplanetária" para sobreviver.

O Ponto Ômega de Elon Musk: Musk frequentemente fala sobre o "Ponto Ômega", uma ideia que ele adaptou do pensamento do filósofo Pierre Teilhard de Chardin. O Ponto Ômega representa um estado futuro de evolução tecnológica e consciência, onde a humanidade se funde com a inteligência artificial e atinge um nível de existência transcendental. Essa visão é profundamente hipersticiosa, pois Musk não apenas acredita nela, mas também trabalha ativamente para torná-la realidade através de suas empresas, como a Neuralink e a SpaceX.
O Futuro Distópico

A visão de Land e Yarvin é, em muitos aspectos, distópica. Eles veem o colapso da ordem atual como inevitável e, em alguns casos, desejável. Para Land, a aceleração do capitalismo e da tecnologia pode levar a uma "singularidade" onde a humanidade como a conhecemos deixa de existir, substituída por algo novo e estranho. Yarvin, por outro lado, imagina um futuro onde a democracia liberal é substituída por um sistema mais autoritário e eficiente.

Essas ideias têm ressonância em figuras como Peter Thiel, Elon Musk e JD Vance, que parecem abraçar narrativas hipersticiosas para moldar o futuro. Thiel, por exemplo, investe em tecnologias que ele acredita que vão "conjurar" um futuro distópico (ou utópico, dependendo da perspectiva). Musk, por sua vez, é um mestre em criar narrativas hipersticiosas, como a ideia de que a humanidade deve se tornar uma "civilização multiplanetária" para sobreviver.

Conclusão
Nick Land, Curtis Yarvin e o conceito de hiperstição representam uma visão sombria e niilista do futuro, onde a aceleração tecnológica e o colapso social são vistos como inevitáveis e, em alguns casos, desejáveis. Sua influência sobre figuras como Peter Thiel, Elon Musk e JD Vance sugere que suas ideias podem ter um impacto significativo no mundo real, mesmo que permaneçam obscuras para a maioria das pessoas.

A hiperstição, em particular, é uma ferramenta poderosa para entender como ideias e narrativas moldam o futuro. Ela nos lembra que o futuro não é algo fixo, mas algo que pode ser "conjurado" através de crenças e ações. E, no caso de Land e Yarvin, esse futuro é profundamente perturbador.


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