Um recente alerta do banco Goldman Sachs levantou uma possibilidade extrema, mas não descartada: uma dissociação financeira total entre os Estados Unidos e a China. Em outras palavras, uma ruptura completa das relações econômicas e financeiras entre as duas maiores potências do planeta. O relatório aponta que esse cenário radical poderia eliminar até US$ 2,5 trilhões em ativos financeiros globalmente.
O que significaria essa dissociação?
Dissociar-se financeiramente implica em romper laços essenciais:
Proibição de investimentos cruzados
Barreiras para operação de bancos e empresas estrangeiras
Deslistagem de empresas chinesas de bolsas americanas
Restrições comerciais e tecnológicas
No cenário traçado pelo Goldman Sachs:
Investidores americanos seriam forçados a vender US$ 800 bilhões em ações chinesas
A China poderia liquidar até US$ 1,7 trilhão em ativos americanos, como títulos do Tesouro e ações de grandes empresas dos EUA
Por que isso está no radar?
Nos últimos anos, as tensões entre EUA e China só aumentaram:
Guerra comercial iniciada em 2018
Restrições às empresas chinesas como Huawei e TikTok
Preocupacção com espionagem e dependência tecnológica
Busca da China por reduzir a dependência do dólar
O risco de uma ruptura total é pequeno, mas cresce à medida que o confronto geopolítico se intensifica.
Quais seriam os impactos?
1. Mercados financeiros globais
Quedas abruptas nas bolsas de valores
Volatilidade extrema
Desconfiança generalizada em ativos de risco
2. Economia real
Redução drástica no comércio global
Recessão em vários países
Dificuldades em cadeias de suprimentos, principalmente de tecnologia
3. Impacto no Brasil
Desvalorização cambial, alta do dólar
Queda na demanda chinesa por commodities brasileiras
Redução de investimentos estrangeiros
4. Criptomoedas e ativos digitais
A dissociação financeira poderia impulsionar o uso de criptomoedas como alternativa ao sistema tradicional. Com a instabilidade de moedas fiduciárias e aumento da desconfiança nos bancos centrais, investidores poderiam buscar refúgio em Bitcoin, Ethereum e stablecoins.
Por outro lado, governos poderiam reagir com maior regulação sobre ativos digitais, visando controlar a fuga de capitais e evitar riscos sistêmicos.
A China, que já promove sua própria moeda digital estatal (e-CNY), poderia acelerar sua adoção como forma de minimizar o impacto do sistema financeiro ocidental.
O resultado seria um aumento na fragmentação do ecossistema financeiro digital, com potenciais efeitos tanto positivos quanto negativos para a inovação e a liberdade econômica.
Casos históricos semelhantes
Embora uma dissociação dessa magnitude nunca tenha ocorrido entre potências tão integradas, há paralelos importantes:
Crise de 2008 (EUA): Colapso bancário que mostrou como a instabilidade em um país afeta o mundo inteiro.
Sanções contra a Rússia (2022): Desconexão do sistema financeiro ocidental causou impacto global em energia, alimentos e inflação.
Segunda Guerra Mundial: Mostrou que uma quebra total de relações comerciais exige gerações para ser reconstruída.
Guerra Comercial EUA-China: Ainda que parcial, já provocou prejuízos significativos, incertezas e migração de indústrias.
Interligação financeira atual
Hoje, os mercados estão profundamente entrelaçados. Investimentos fluem em ambas as direções: empresas chinesas captam recursos nos EUA, e a China investe pesadamente em dívida americana e infraestrutura global. Uma dissociação não seria apenas uma decisão política ou econômica: seria uma cirugia sem anestesia no sistema financeiro internacional.
Conclusão
O alerta do Goldman Sachs não é uma previsão, é um aviso. Mostra que o mundo está tão integrado que um conflito entre potências pode provocar um terremoto financeiro de proporções históricas. Mesmo para países distantes do centro da disputa, os reflexos podem ser profundos.
A dissociação financeira total entre EUA e China seria, sem exagero, uma reconfiguração da ordem econômica mundial. E cabe ao mundo, diante disso, optar pelo confronto ou pela cooperação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário