terça-feira, 10 de junho de 2025

Uma Nova Geopolítica Silenciosa? Quarta Teoria Política de Aleksandr Dugin


Nos bastidores do século XXI, algumas correntes filosóficas e estratégicas vêm se destacando pela ousadia com que desafiam a ordem estabelecida. Uma delas é a Quarta Teoria Política, proposta pelo pensador russo Aleksandr Dugin. Embora amplamente rejeitada ou ignorada no mainstream, ela parece estar, de forma indireta, inspirando rumos geopolíticos concretos — ou, pelo menos, ressoando com certos movimentos globais.
A proposta de Dugin busca transcender as três grandes ideologias políticas modernas: liberalismo, comunismo e fascismo. Sua crítica central é ao liberalismo globalista, tecnocrático e individualista, que teria vencido as guerras ideológicas do século XX, mas, ao fazê-lo, esvaziado o sentido humano e comunitário da política.
Em lugar dessas ideologias, Dugin sugere uma teoria centrada no conceito de "Dasein" (o "ser aí", de Heidegger) — ou seja, uma política ancorada nas raízes culturais, espirituais e existenciais dos povos. Nada mais distante da uniformização promovida por algoritmos, consumo e vigilância digital.
Aparentemente, esse tipo de pensamento encontrou terreno fértil não só na Rússia, mas também em potências como China e regiões do mundo islâmico, que têm demonstrado crescente resistência à ordem liberal-tecnocrática. A consolidação de laços entre esses blocos talvez não seja coincidência, mas sintoma de uma mudança civilizacional em andamento.
Estaria o mundo se dividindo em grandes blocos filosófico-políticos, cada um com sua própria concepção de "vida boa", progresso e destino coletivo?
Ao mesmo tempo, vemos o Ocidente — EUA, Canadá, Europa, Austrália — consolidando um modelo de sociedade baseado em tecnocracia, controle algorítmico, big data e descentralização simbólica do ser humano. Aqui, o indivíduo é cada vez mais tratado como vetor de dados, consumidor e "recurso humano" automatizado.
Nessa suposta polarização, surge a dúvida: existe espaço para uma terceira via? Uma alternativa que não se baseie nem na tecnocracia liberal, nem na tradição autoritária?
É nesse ponto que surge uma possibilidade intrigante: a África.
Nos últimos anos, assistimos a um movimento forte e inesperado de países africanos se desvinculando de antigas potências coloniais, especialmente da França. Golpes militares, alianças regionais e novos discursos de soberania sugerem que o continente está buscando algo próprio — talvez pela primeira vez em séculos, com certo grau de liberdade histórica.
E é também na África que brota uma filosofia ancestral ainda viva: o Ubuntu. Seu princípio "sou porque somos" representa não só uma ética coletiva, mas uma visão do mundo onde o ser não se dá na solidão, mas no encontro.
Seria o Ubuntu um modelo espiritual-político alternativo? Um modo de vida que valoriza a comunidade, a conexão com a natureza e o respeito mútuo, sem cair na vigilância digital nem na repressão dogmática?
É claro que tudo isso ainda é semente, hipótese, fio de intuição. A África continua enfrentando problemas profundos: pobreza, corrupção, pressão externa e conflitos internos. Mas talvez esteja ali o embrião de uma nova cosmovisão que o mundo ainda não foi capaz de absorver — algo que não se encaixa nos modelos tradicionais.
Assim, três grandes blocos talvez estejam silenciosamente se formando:
  • Ocidente Tecnocrático: baseado em dados, individualismo, inteligência artificial e consumo.
  • Bloco Tradicionalista (Rússia, China, Islã): ancorado em espiritualidade, cultura ancestral e ordem hierárquica.
  • Possível Terceira Via Africana: coletividade, espiritualidade comunitária, filosofia Ubuntu e soberania cultural.
Tudo isso é especulativo. Mas, no meio do ruído geopolítico e das agendas visíveis, talvez exista uma dança mais profunda em andamento — onde a alma coletiva dos povos começa, finalmente, a se mover.

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