Se você não quiser morrer nesta pandemia, leia até o fim, estúpido! Aqui faço uma reflexão histórica sobre ciência e mostro todas as provas irrefutáveis do funcionamento do medicamento tabu.
Por: Filipe Rafaeli
Tradução: Ricardo Camillo
“Ele era capaz de ser tão gentil com as crianças, de fazer com que elas se apaixonassem por ele”, relatou uma testemunha sobre este homem, de sorriso tímido, da fotografia. Formado em medicina e com doutorado em antropologia, ele foi um cientista famoso, produtivo e de repercussão internacional.
Durante sua carreira, ele obteve reconhecimento de seus superiores e alcançou importantes cargos. Sua área de pesquisa era a genética.
Eu caminhava por Atibaia, no interior de São Paulo, olhando para as montanhas, pensando na ciência, quando me lembrei deste cientista. De modo discreto, ele viveu uma parte de sua vida aqui, nesta região no Brasil. Morou em Serra Negra, uma charmosa cidade a pouco mais de uma hora de distância.
Seu final foi trágico. Teve um ataque cardíaco e morreu afogado, em 1979, quando nadava na praia da enseada, em Bertioga, uma cidade litorânea, a três horas de distância, onde costumamos ir no verão.
Sozinho no momento do afogamento, não sabiam quem ele era. Foi enterrado como um desconhecido qualquer. Nem sua família participou do sepultamento.
Lembrar de algumas histórias da ciência ajuda a entender os dias atuais da ciência. E aqui, neste artigo, você vai acompanhar, junto comigo, todas as evidências e provas irrefutáveis do funcionamento da hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19.
Afirmo, sem medo de errar, que há uma farsa monumental ocorrendo no mundo. Nesta farsa, boa parte das pessoas do planeta está sendo bombardeada, diariamente, com a informação de que a hidroxicloroquina não funciona para combater a pandemia.O jornal The New York Times, o mais influente do mundo, mantém uma seção em seu website falando sobre todas as possibilidades de tratamento para a COVID-19, a doença causada por esta pandemia. Lá eles listam a hidroxicloroquina como “não promissora”. Esta seção é mantida por jornalistas experientes e premiados da área de ciência. Para eles, este medicamento já é assunto descartado.
A revista Vanity Fair resolveu elevar o tom. Já concluiu que quem ainda fala sobre a hidroxicloroquina é charlatão. Simples assim. Eles comentavam que Donald Trump, o presidente dos EUA, apesar de ter sido um entusiasta do tratamento com este medicamento, ao contrair o vírus, não fez uso dele.
Para o importante site Vox, foram mais longe ainda. Para eles, qualquer um que fale sobre a hidroxicloroquina só pode ser um adepto de teorias da conspiração.
Já o The Guardian, um dos mais importantes jornais da Europa, colocando um ponto final no assunto, informa que o professor Didier Raoult, cientista francês, está sendo processado em um conselho disciplinar por promover o medicamento. Não é novidade. Na Holanda, o médico Rob Elens foi perseguido por prescrever hidroxicloroquina.
Já o governo da Austrália, ao ler essas notícias, fez uma lei severa, como se hidroxicloroquina fosse cocaína: as pessoas podem até irem presas se receberem este medicamento.
Os grandes veículos de imprensa tratam desse assunto como se houvesse um consenso científico. Como se os cientistas que defendem o uso fossem poucos, pequenos, insignificantes ou pirados. Não são. Muito pelo contrário.
Neste artigo não vou simplesmente transformar o tratamento com HCQ (sigla para a hidroxicloroquina) de “não promissor”, como qualifica o New York Times, para “promissor”. Vou explicar que é cientificamente comprovado, e de todos os modos científicos possíveis.
Além disso, vou explicar como e porque está ocorrendo, neste momento, o maior apagão jornalístico da história da humanidade. Sim, é isso mesmo. Eu estou falando aqui que o New York Times e quase todas as outras grandes mídias de massa estão fazendo um jornalismo porco e de péssima qualidade.
Como resultado deste amadorismo, no momento, está sendo criado um abalo sísmico de proporções gigantescas, e sem precedentes, na credibilidade da grande imprensa mundial, com consequências imprevisíveis para a humanidade nas próximas décadas.
E desde já faço um aviso: não tenho nenhuma preocupação em produzir um artigo curto. São muitas análises a serem feitas, nuances para serem abordadas e muitos detalhes que não podem ser deixados de lado.
A farsa é tão grande e com tantos atores, que é quase inacreditável que possa ser desmontada com fatos do dia-a-dia e lógica simples
Existem artigos científicos, fatos e números que ninguém quer noticiar ou discutir. São estudos que não se tornaram notícias nos principais meios de comunicação nem foram citados pelos jornalistas de ciência, mas que possuem impactos como socos de Muhammad Ali na lógica de quem afirma que o medicamento não funciona. Aqui eles virão à público.
Meu principal ponto de vista neste artigo é a evolução dos argumentos das pessoas que insistem que o medicamento é ineficaz contra a COVID-19.
Este é meu terceiro texto sobre o tema. No primeiro (Em Francês, Inglês, Português), há três meses, eu explicava minha visão pessoal. Eu tinha o objetivo de fazer uma escolha entre tomar ou não esses medicamentos, em caso de contrair o vírus.
Nele eu abordei o cenário político e as incríveis falhas lógicas de quem afirma que o tratamento não funciona. Abordava como a "história oficial" é uma incrível teoria de conspiração e explicava como a falsa narrativa sobre esta medicação foi formada, tudo em uma linha do tempo.
Em meu segundo artigo eu denunciava a censura vergonhosa, travestida de serviço à sociedade, que tem ocorrido no mundo atual. Além disso, eu expliquei a inversão de valores ideológicos, no ocidente, entre a direita e a esquerda, ao tratar deste tema. (Publicado originalmente na France-Soir em Francês. Também com versão em Português e Inglês).
Agora escrevo este terceiro texto, onde trago todas as principais novidades do mundo científico nesses últimos três meses. É para desmontar os últimos argumentos de quem diz que não funciona.
O mundo está parado. Há pânico e medo na população global. Mais de um milhão e trezentas mil pessoas já morreram. Para a imensa maioria dessa vítimas, uma cura com alta porcentagem de sucesso foi negligenciada. Outros milhões estão com depressão, sem perspectiva de vida e de felicidade. Tudo devido a uma tempestade perfeita e erros grosseiros. Tudo aproveitado, convenientemente, por interesses mesquinhos.
Os quatro níveis de leitores deste artigo
Você, leitor, pode ter alguns níveis de conhecimento sobre o assunto. O primeiro é você saber muito pouco sobre o tema. Se este for seu caso, não se preocupe. Explicarei muitas coisas a partir do início, e com o esforço de fazer com que todos entendam.
O segundo nível é você que já ter lido sobre este assunto, estar por dentro das notícias, entender algo do método científico e já ter aprendido, depois de diversas explicações, o que são os ensaios clínicos randomizados e controlados. Sei que você está lendo com a seguinte pergunta pronta: “onde estão o ensaios randomizados com resultados positivos?”. Se este for seu caso, este artigo é especialmente dirigido para você. Não se preocupe. Eu chegarei neste assunto. E sim, existem diversos testes randomizados positivos.
O terceiro nível de leitor é o que gosta de ler teorias de conspiração para ver onde estão os argumentos malucos e as ligações de fatos isolados. Eu também gosto de ler esses textos. Mas se for este seu caso, informo que você ficará frustrado. Tudo que escrevo é sobre fatos concretos a partir de fontes confiáveis. Além disso, coloco os links para os estudos científicos, números oficiais o e não uso nenhuma fonte anônima dizendo coisas bombásticas.
O quarto nível de leitor é o que já concluiu que não funciona. Se este for seu caso, eu sei que isso, para você, já virou uma questão de fé. Nenhum fato ou estudo científico mudará seu modo de pensar. Por mim, não há nenhum problema. Entretanto, eu explicarei o ponto exato, bastante restrito, onde você poderá manter sua opinião de que “não é cientificamente comprovado”.
Em 17 de março de 2020, um estudo promissor sobre um tratamento para a COVID-19 foi publicado. A origem era o IHU-Mediterranée Infection, um hospital Universitário em Marselha, no sul da França. O principal cientista deste estudo era o professor Didier Raoult, diretor desse centro pesquisa considerado de excelência.
De acordo com o site Expertscape, Didier Raoult não é um cientista qualquer. Ele é um dos maiores especialistas do mundo em doenças transmissíveis. Este site faz estatísticas, por especialidades, da produção científica mundial.
Raoult possui a imensidão de quase 3 mil artigos científicos publicados na Pubmed. Definitivamente, ele não é um maluco fazendo alegações fantásticas, como alguns sugerem.
Além disso, a idéia de usar a hidroxicloroquina como base para o tratamento da COVID-19 não surgiu do nada. Foi uma construção em conjunto. Em 2005, já havia um estudo norteamericano especulando sobre o potencial deste medicamento, tanto para tratar a doença manifestada por vírus, como para profilaxia.
Este estudo de 2005 era sobre o irmão mais velho da pandemia atual, o SARS-Cov1, uma doença também respiratória, também por coronavírus e também iniciada na China, ocorrida em 2003, mas que não se espalhou pelo mundo e teve poucas mortes.
O estudo de Didier Raoult e equipe se baseou em relatos de que na China, no começo do ano, estavam usando este medicamento para tratar a COVID-19 com relativo sucesso.
Neste contexto, quando a pandemia já atingia a França, o IHU-Marselha iniciou um teste clínico, com poucos pacientes, em dois braços. No primeiro grupo, ministraram apenas HCQ, como na sugestão da China, e no outro, uma dupla de medicamentos: a HCQ e a Azitromicina (AZ), um antibiótico.
A aplicação dos dois medicamentos em conjunto foi a grande descoberta da equipe de Raoult. Os seis pacientes que receberam a dupla terapia, e logo no início dos sintomas, tiveram uma recuperação muito rápida, com resultados superiores à hidroxicloroquina sozinha. Em apenas cinco dias, todos os seis já haviam se livrado do vírus, informava o artigo.
Tanto a hidroxicloroquina como a azitromicina são medicamentos antigos, baratos, fabricados em todos os lugares e sem patentes. Uma terapia com esses dois medicamentos custa aproximadamente de 5 dólares por paciente.
A hidroxicloroquina, que é a base do tratamento, é bastante conhecida e muito segura. Possui 65 anos de idade e foi usada originalmente para combater a malária. Com o passar do tempo, descobriram que era útil tanto para Lupus como para artrite reumatoide, os usos mais comuns. Há estudos, inclusive, sobre o uso deste medicamento para combater a AIDS, com resultados considerados interessantes mas não definitivos.
Três dias depois da divulgação do estudo, em 21 de março, Donald Trump, o presidente dos EUA, anunciou a descoberta de Didier Raoult. Ele foi responsável por colocar o nome deste medicamento na pauta de todos os jornais do mundo. Trump anunciou como a possibilidade de uma grande “mudança de jogo”. A pandemia já atingia os EUA.
Logo no início de abril, um médico de uma pequena cidade próxima a Nova York anunciou já estar tratando pacientes com esse protocolo. Dr Vladimir Zelenko, além da hidroxicloroquina e azitromicina, incluiu zinco no cocktail.
Zelenko, mesmo apenas sendo um simples médico e não um cientista com um longo histórico de pesquisas, aparentemente fez uma grande descoberta. Todas as informações sugerem, hoje, que a inclusão do zinco foi uma evolução importante. Estudos recentes já vinculam a deficiência de zinco com a gravidade da doença.
No início de abril, Zelenko já anunciava ter tratado cerca de 200 pacientes, a maioria deles idosos, entre outros pacientes de grupos de risco. Ele relatava que não teve nenhuma morte. Algo bastante animador.
De acordo com o site Expertscape, Didier Raoult não é um cientista qualquer. Ele é um dos maiores especialistas do mundo em doenças transmissíveis. Este site faz estatísticas, por especialidades, da produção científica mundial.
Raoult possui a imensidão de quase 3 mil artigos científicos publicados na Pubmed. Definitivamente, ele não é um maluco fazendo alegações fantásticas, como alguns sugerem.
Além disso, a idéia de usar a hidroxicloroquina como base para o tratamento da COVID-19 não surgiu do nada. Foi uma construção em conjunto. Em 2005, já havia um estudo norteamericano especulando sobre o potencial deste medicamento, tanto para tratar a doença manifestada por vírus, como para profilaxia.
Este estudo de 2005 era sobre o irmão mais velho da pandemia atual, o SARS-Cov1, uma doença também respiratória, também por coronavírus e também iniciada na China, ocorrida em 2003, mas que não se espalhou pelo mundo e teve poucas mortes.
O estudo de Didier Raoult e equipe se baseou em relatos de que na China, no começo do ano, estavam usando este medicamento para tratar a COVID-19 com relativo sucesso.
Neste contexto, quando a pandemia já atingia a França, o IHU-Marselha iniciou um teste clínico, com poucos pacientes, em dois braços. No primeiro grupo, ministraram apenas HCQ, como na sugestão da China, e no outro, uma dupla de medicamentos: a HCQ e a Azitromicina (AZ), um antibiótico.
A aplicação dos dois medicamentos em conjunto foi a grande descoberta da equipe de Raoult. Os seis pacientes que receberam a dupla terapia, e logo no início dos sintomas, tiveram uma recuperação muito rápida, com resultados superiores à hidroxicloroquina sozinha. Em apenas cinco dias, todos os seis já haviam se livrado do vírus, informava o artigo.
Tanto a hidroxicloroquina como a azitromicina são medicamentos antigos, baratos, fabricados em todos os lugares e sem patentes. Uma terapia com esses dois medicamentos custa aproximadamente de 5 dólares por paciente.
A hidroxicloroquina, que é a base do tratamento, é bastante conhecida e muito segura. Possui 65 anos de idade e foi usada originalmente para combater a malária. Com o passar do tempo, descobriram que era útil tanto para Lupus como para artrite reumatoide, os usos mais comuns. Há estudos, inclusive, sobre o uso deste medicamento para combater a AIDS, com resultados considerados interessantes mas não definitivos.
Três dias depois da divulgação do estudo, em 21 de março, Donald Trump, o presidente dos EUA, anunciou a descoberta de Didier Raoult. Ele foi responsável por colocar o nome deste medicamento na pauta de todos os jornais do mundo. Trump anunciou como a possibilidade de uma grande “mudança de jogo”. A pandemia já atingia os EUA.
Logo no início de abril, um médico de uma pequena cidade próxima a Nova York anunciou já estar tratando pacientes com esse protocolo. Dr Vladimir Zelenko, além da hidroxicloroquina e azitromicina, incluiu zinco no cocktail.
Zelenko, mesmo apenas sendo um simples médico e não um cientista com um longo histórico de pesquisas, aparentemente fez uma grande descoberta. Todas as informações sugerem, hoje, que a inclusão do zinco foi uma evolução importante. Estudos recentes já vinculam a deficiência de zinco com a gravidade da doença.
No início de abril, Zelenko já anunciava ter tratado cerca de 200 pacientes, a maioria deles idosos, entre outros pacientes de grupos de risco. Ele relatava que não teve nenhuma morte. Algo bastante animador.
Dizer que é “caso anedótico” foi o primeiro argumento contra o uso, mas era, naquele breve período de tempo, um argumento justo
O estudo de Marselha era apenas preliminar. Eles publicaram a descoberta mesmo sendo o resultado de apenas seis pacientes com a dupla terapia.
No próprio estudo eles avisavam que era preliminar. Divulgaram rapidamente pelos resultados serem, segundo eles, muito animadores. Argumentaram que a divulgação ocorreu por uma questão de ética. Não poderiam esperar um estudo completo, finalizado, para a publicação. A notícia precisava ser espalhada e vidas precisavam ser salvas a partir daquele momento.
Foi assim que todos aprendemos o que são “casos anedóticos”. O que isso significa? Que com poucos pacientes, sem um estudo mais aprofundado, não pode ser considerado como prova científica. É necessário possuir mais consistência.
Os casos anedóticos são importantes na medicina porque eles sugerem um tratamento. A partir deles, desenvolvem-se estudos, mais completos, com grande quantidade de pacientes.
Donald Trump anunciou com estardalhaço. Anthony Fauci, o chefe da força tarefa dos EUA no combate à pandemia, foi quem explicou para todos o que são os casos anedóticos. Ele também explicou o que é o “padrão ouro” da ciência”, o nível máximo de evidência: é um ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, duplo cego, revisado por pares e publicado em uma revista médica de prestígio, com fator de impacto.
De acordo com Fauci, nenhum tratamento médico consegue provar o funcionamento se ele não for um estudo "padrão ouro".
O que é um estudo “padrão ouro” da ciência?
Randomizado significa sortear pacientes em dois grupos semelhantes de idade, sexo e doenças prévias. Em um deles, aplica-se os medicamentos. No outro, os placebos. Os que recebem o placebo são o controle para comparação de resultados.
Duplo cego significa que nem os pacientes nem os médicos que estão fazendo os atendimentos sabem quais pacientes estão recebendo o placebo ou o medicamento.
Revisado por pares quer dizer que, depois de finalizado o estudo, antes da publicação, outros cientistas verificam a qualidade científica, fazem revisões e correções. Ou seja, outros cientistas atestam a qualidade do estudo.
Jornais científicos com fator de impacto são rankings criados para designar as mais importantes revistas de medicina. É um conceito que parece ser interessante, mas é perigoso. Hoje as três primeiras do ranking são: a New England Journal of Medicine, a Lancet e a Jama. Existem diversas outras. Quanto maior o ranking, mais prestígio tem o trabalho publicado.
A sigla para os ensaios randomizados é RCT (Randomized Controlled Trial).
Antes de iniciarem os testes clínicos randomizados para atestar ou não o funcionamento da hidroxicloroquina, Raoult e Zelenko foram atacados impiedosamente
Foram investigar a vida de Didier Raoult em detalhes. A matéria que mais viralizou foi a de um site com um nome imponente: “For Better Science”. É de propriedade do alemão Leonid Schneider. A primeira saiu alguns dias depois, em 26 de março. No total, sobre Raoult, foram cinco artigos. “Médico bruxo” era um dos títulos. “Louco e perigoso”, concluiu Leonid.
O dossiê sobre a vida do cientista chegou a abordar acusações de bullying e de que ele havia acobertado casos de assédio sexual ocorridos em seu instituto. “Fim da partida?”, perguntou um dos textos sobre Raoult.
Leonid também abordou alguns casos preocupantes, como falsificações ocorridas em trabalhos do IHU-Marselha. Encontraram pelo menos cinco trabalhos com imagens de microsocópio alteradas no photoshop.
A informação de que Raoul já produziu quase três mil artigos, e que isso seria estatisticamente irrelevante, Leonid omitiu.
Fui acompanhar o que dizia Raoult: ele explicou que um dos alunos alterou essas imagens e que isso passou despercebido em toda a equipe.
Logo o artigo seguiu em outra direção, mais burocrática. Acusaram Raoult de ser amigo do Editor da revista onde o estudo preliminar foi publicado. Essa discussão evidenciou o que considero hoje um fetiche entre cientistas com publicações e com o "fator de impacto” dos jornais científicos.
Eu li com atenção o artigo de Leonid Schneider. O que prometia ser uma reportagem bombástica, criou bastante expectativa durante desenvolvimento do texto, mas não tinha a informação sobre o que eu realmente queria: e afinal, os seis pacientes foram curados em cinco dias ou não? Ele não respondeu.
“Cura milagrosa” foi o jeito que o New York Times se referiu a Raoult. Todas essas matérias serviram para assassinar a reputação do cientista, mas não são nada importantes quando comparadas às ameaças de morte que Didier passou a receber logo depois de propor o tratamento com dois medicamentos genéricos e baratos.
Nos EUA, o principal porta voz do tratamento passou a ser o Dr Vladimir Zelenko. Ele publicou vídeos no Youtube falando que tratou pacientes com as medicações. Afirmou que obteve bons resultados e que a imensa maioria dos pacientes melhorava rapidamente.
O Youtube apagou seus vídeos por serem “desinformação”. Há uma regra imposta: apenas pode-se dizer que o medicamento funciona nas redes sociais, no sites de ciência e nos grandes jornais, se houver um estudo RCT (Randomized controlled trial) com resultado positivo.
Logo fizeram uma reportagem sobre Zelenko no New York Times. Colaram nele o mesmo selo de “cura milagrosa” que colaram em Raoult. O jornal criou uma teoria de conspiração: a motivação de Zelenko para afirmar que o medicamento funcionava só poderia ser política, afinal, Trump era entusiasta deste tratamento. Zelenko virou uma “estrela da direita”, escreveram os jornalistas do Times.
A reportagem era um perfil detalhado de Zelenko. Explicou que ele não simpatizava com Hillary Clinton, que vivia no interior, que se recuperava de um câncer, mas não investigou a única coisa que realmente interessava: e afinal, os pacientes dele, morreram ou não morreram?
Porque se ele tratou 200 pacientes de alto risco e não morreu ninguém, já seria a comprovação científica do funcionamento.
Simples assim. É a regra mais básica da ciência: a reprodução.
É simples mesmo. A doença tem um começo, meio e fim rápido. Em cerca de 15 dias depois de apresentar os sintomas, sem nenhum medicamento efetivo, uma porcentagem entre 3 e 6% dos pacientes sintomáticos precisam ser entubados para continuarem vivos.
Nesta expectativa, era para terem morrido pelo menos seis pacientes. Qualquer número abaixo disso, em uma distribuição normal da sociedade norteamericana, significa que o medicamento funciona.
(Veja aqui o gráfico dos EUA de porcentagem de fatalidade na época da publicação da notícia).
E logo ocorreu uma bifurcação entre a ciência da vida real e a ciência da burocracia científica
Com a informação que apenas pode-se fazer recomendações médicas com ensaios randomizados (RCT) positivos, seguiu-se com o "método científico".
Foram produzir estudos RCT, para depois serem revisados por pares e, na sequência, serem publicados em revistas de impacto.
Mas os estudos RCT são demorados, muito caros, levam tempo para projetar, organizar e apresentar os resultados.
Neste contexto, todos os jornalistas de ciência passaram a escrever e explicar esse processo. E as decisões governamentais, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da FDA, órgão norteamericano, se mantiveram aguardando esses resultados.
Por outro lado, na ciência da vida real, com os bons indícios do primeiro estudo de Didier Raoult e a confirmação por Zelenko, médicos começaram a atender pacientes com esses medicamentos. Assim outros tipos de estudos passaram a ser produzidos: os estudos observacionais. Eles são rápidos e baratos de serem feitos.
O que são os estudos observacionais e quais as diferenças entre eles e os RCT?
Médicos, clínicas ou um hospitais atendendo pacientes no meio de uma pandemia podem fazer, com certa facilidade, estudos observacionais. Eles podem tanto confirmar um protocolo existente, como o do IHU-Marselha, ou podem incluir mais medicamentos.
A diferença entre os observacionais e os RCT é que não há randomização e controle duplo cego por placebo. Os médicos sabem que estão entregando os medicamentos e os pacientes sabem que estão tomando os medicamentos.
A comparação, para saber se o tratamento obteve sucesso ou não, é com pacientes que não foram medicados. Esses pacientes podem ser dos mesmos hospitais, de outros hospitais, ou com uma média geral de mortalidade da cidade, região ou país.
E pela falta de randomização, ou seja, a distribuição semelhante de pacientes por características, entre os que recebem o medicamento ou o placebo, se a diferença de resultados clínicos entre os grupos for pequena, é mais difícil julgar se o tratamento funcionou ou não.
Os quatro tipos possíveis de uso da hidroxicloroquina contra a COVID-19
Existem quatro possíveis usos do hidroxicloroquina. O que Raoult propôs foi o tratamento precoce. Ou seja, o início do tratamento nos primeiros dias de sintoma, antes da doença se agravar. É o uso mais óbvio. Em todas as doenças os médicos recomendam iniciar os tratamentos o mais cedo possível.
Além disso, existem mais outras possibilidades. A primeira é a profilaxia pré-exposição: é quando os pacientes tomam a medicação antes de ter contato com o vírus.
A segunda é a profilaxia pós-exposição, que é quando o paciente toma a medicação logo após ter contato com alguém infectado, e a terceira possibilidade é o tratamento já com a doença avançada, grave, em pacientes já hospitalizados, necessitando de oxigênio ou intubados.
Na ciência da vida real, estudos observacionais de tratamento com hidroxicloroquina em tratamento precoce trazem resultados espetaculares
Existem diversos estudos observacionais, além dos feitos no IHU-Marselha, de tratamento com o protocolo de HCQ + AZ nos primeiros dias de sintoma.
Alguns são apenas de hidroxicloroquina e alguns com outras combinações de medicamentos. Aqui trago alguns que deixaram bem claro em seus estudos que se tratava de tratamento precoce.
Linha do tempo dos estudos observacionais em tratamento precoce:
22 de maio Casas de repouso em Nova York, EUA
Em vez da combinação hidroxicloroquina e azitromicina, o segundo medicamento era a doxicilina. O estudo liderado por Imtiaz Ahmad foi feito com 54 pacientes de alto risco em três casas de repouso em Nova York. Apenas 11% dos pacientes foram transferidos para hospitais e apenas 6% morreram.
A comparação foi com outra casa de repouso. Em King County, Washington, onde não houve tratamento, 57% dos pacientes foram hospitalizados e 22% morreram. “Uma diminuição da transferência para o hospital e a uma diminuição da mortalidade foram observados após o tratamento”, afirmaram os cientistas.
É uma diferença grande, como podemos dizer que não funciona?
31 de maio Clínicas particulares na França
Em estudo feito por Violaine Guérin e equipe acompanhou o resultado de 88 pacientes. A combinação hidroxicloroquina e azitromicina reduziu as mortes em 43% e o tempo de recuperação em 65%, comparados ao grupo controle.
25 de junho IHU-Mediterranée Infection, Marselha, França.
O instituto onde Didier Raoult é professor publicou seu estudo "final", mais sólido, com 3737 pacientes. Antes eles já haviam publicado duas prévias, com 80 e com 1000 pacientes.
Do total, 3,119 receberam a combinação de medicamentos. A taxa de mortalidade foi de 0,5%. O resultado mais impressionante é que nenhuma pessoa com menos de 60 anos de idade morreu, e boa parte do total possuía comorbidades anteriores: 7,5% tinha diabetes, 13,1% hipertensão e 11,1% era obeso.
As pessoas podem fazer as críticas que desejarem a esse estudo observacional, mas um fato é imutável: ninguém com menos de 60 anos morreu. Isso é um dado impressionante.
Para comparação, na região de Ile-de France, onde fica Paris, não foram usados os medicamentos. Lá, abaixo de 60 anos, as mortes foram pouco mais que 9,7% entre as fatalidades. Em outra região da França, a Grand-Est, 4,3% das mortes representavam a população menor que 60 anos.
Em outro hospital público em Marselha, cerca de 2,5% dos contaminados morreram. Entre os pacientes que bateram na porta do IHU-Mediteranée Infection foram 0,5% de mortos.
É uma diferença brutal. Como não funciona?
13 de agosto Arábia Saudita
Feito pela equipe de Tarek Sulaiman, do King Fahad Medical City, em Riyadh, na Saudi Arabia, o estudo envolveu 7.892 pacientes atendidos em 238 clínicas em todo o país. 3.320 pacientes receberam a hidroxicloroquina. A comparação foi com 4.572 que não tiveram a medicação.
Envolviam pacientes apenas com exame positivo. Entre os que tomaram a medicação, mais 70% na redução da mortalidade. “A intervenção precoce com terapia baseada no HCQ em pacientes com sintomas leves a moderados na apresentação está associada a resultados clínicos adversos mais baixos entre os pacientes da COVID-19, incluindo admissões hospitalares, admissão na UTI e morte”, concluíram os cientistas.
21 de agosto Casas de repouso em Marselha, França
Feito pelo Dr Tran Duc Anh Ly e equipe, o estudo envolvia pacientes com uma idade média de 83 anos. Foram 226 residentes infectados, 116 tratados com hidroxicloroquina e azitromicina. 53,5% menos mortes entre os que tomaram as medicações.
25 de agosto Hackensack University, EUA
Estudo de Andrew Ip, da Universidade de Hackensack, em Nova York, envolvia 1,274 pacientes. Era apenas com hidroxicloroquina, sem a azitromicina, onde 97 tomou a medicação. A comparação foi com 1177 pacientes que não tomaram. O tratamento precoce foi associado a uma redução de 47% no risco de hospitalização, concluíram os cientistas.
2 de setembro Casas de repouso em Andorra, Europa
Coordenado pela Dra. Eva Heras, o estudo ocorreu apenas entre idosos. Envolveu 100 pacientes e a idade média era de 85 anos. Entre os pacientes que receberam HCQ e Azitromicina, 11,4% morreu. Entre os que não receberam os medicamentos, 61% morreu.
31 de outubro Estudo do Dr Vladimir Zelenko, dos EUA.
Ele se juntou com Roland Derwand e Martin Scholz, dois pesquisadores alemães, para produzir um estudo e publicá-lo. É sobre seus pacientes atendidos próximo a Nova York.
Além da adição do zinco, há uma diferença entre seu protocolo. Zelenko não tratava pacientes que não fossem do grupo de risco. Ou seja, os medicamentos eram prescritos apenas para quem tinha mais de 60 anos de idade ou, se com menos de 60, com pelo menos alguma comorbidade.
Incluídos no estudo estavam 144 pacientes com idade média de 58 anos. Como grupo controle, 377 outros pacientes da mesma comunidade. Entre os que receberam a medicação, apenas um morto (0,7%), entre os que não receberam, 13 mortos (3,5%).
Como não funciona?
31 de outubro Operadora de Saúde Hapvida, Brasil
A operadora Hapvida é uma das maiores do Brasil. Possui milhões de clientes. O estudo envolveu 717 pacientes ambulatoriais positivos para SARS-CoV-2. Todos com 40 anos ou mais. Foi feito por pesquisadores brasileiros da Hapvida, da Universidade Federal de Fortaleza e o professor Harvey Risch, de Yale. Entre os que não tomaram hidroxicloroquina, 3,3% de mortes. Entre os que tomaram a medicação, e em boa parte deles em conjunto com a azitromicina, 0,6% de mortes. "Este trabalho adiciona à crescente literatura de estudos que encontraram benefícios substanciais para o uso de HCQ combinado com outros agentes no tratamento ambulatorial precoce de COVID-19", concluíram os cientistas.
Hoje, no dia que escrevo, 2 de dezembro, são 23 estudos em tratamento precoce com hidroxicloroquina. Todos, sem exceção, com resultados positivos para os pacientes. Veja todos neste link.
Um resumo simples sobre os estudos observacionais em tratamento precoce: entre os pacientes que tomaram as medicações, menos mortes
"Você testou positivo para a COVID. Infelizmente não existem medicamentos aprovados".
Ver todos esses resultados e dizer que o medicamento não funciona é semelhante a chamar todos esses cientistas de imbecis. Não dá.
Pense junto comigo.
Os cientistas dão os medicamentos, e constatam que entre os que tomaram, morreram menos pacientes. E os cientistas dão destaque a isso nos estudos. A relação com a menor quantidade de mortes, claro, é com os medicamentos.
Aí você diz que não é cientificamente comprovado. E que entre os que tomaram hidroxicloroquina, realmente morreram menos pacientes, mas não é por causa do medicamento, mas por algum outro motivo aleatório.
Isso em todos os estudos de tratamento precoce!
Eu não preciso ser um cientista, com doutorado em medicina ou microbiologia, para ficar irritado com pessoas que acreditam que elas são espertas, inteligentes e que todos os outras pessoas são idiotas. Isso é passar do limite razoável de civilidade.
Pense no seguinte diálogo com uma pessoa que nega o funcionamento:
- Neste estudo aqui, da França, teve 53,5% menos mortes entre os que tomaram hidroxicloroquina.
- Mas o medicamento não funciona, não é cientificamente comprovado.
- Você está querendo dizer que os que tomaram morreram menos, mas por outro motivo, é isso?
- Exatamente.
- Mas por que morreram menos?
- Eu não sei.
- Tudo bem. Tem este outro estudo aqui, dos EUA, só com velhinhos. Os cientistas disseram que entre os que tomaram, morreram 6%, e entre os que não tomaram, morreram 11%, mas não é cientificamente comprovado, certo?
- Isso. Exatamente. O medicamento não funciona.
- Então entre os que tomaram hidroxicloroquina morreram menos, mas por algum outro motivo, é isso?
- Exatamente.
- E o Didier Raoult, o que você acha dele?
- Fraudador
- E o Zelenko?
- Defensor do Trump.
- E o cientistas de Andorra, do Brasil e da Arábia saudita, todos fraudadores e defensores de Trump também?
- Provavelmente.
- E você, como você se define, defensor da ciência?
- Exatamente.
- Qual sua religião?
- Sou devoto fiel da igreja fundamentalista do randomizado, controlado e duplo cego.
Eu não sou cientista. Eu penso de modo bem simples, mas acho que isso é conversa de quem precisa de camisa de força.
E a ciência confirma que é, sim, conversa de quem precisa de camisa de força
Nesta pandemia há uma definição dogmática: a hidroxicloroquina só pode ser recomendada pelos governos e entidades se tivermos um RCT controlado por placebo demonstrando resultado positivo.
A outra definição é que só pode falar que o medicamento funciona, tanto nas redes sociais como nos jornais, se tiver um RCT positivo. Qualquer coisa diferente disso é "desinformação" e precisa ser censurado.
Além disso, está autorizado ofender médicos que receitarem medicamentos sem RCT. Eles são charlatões, enganadores, teóricos da conspiração e "anti-ciência".
Provavelmente sempre foi assim que funcionou a ciência médica, certo?
Não. É um discurso falso.
A história da ciência médica é baseada em estudos observacionais, mas houve uma conveniente mudança na regra exatamente agora, em 2020, durante esta pandemia, exatamente no momento que o mundo tem pressa.
Em artigo de 2011, na revista médica Jama, um estudo científico de Dong Heun Lee mostrou que apenas 14% das diretrizes de tratamento da Infectious Diseases Society of America foram baseadas no "nível máximo" de evidência, a exigência que querem da hidroxicloroquina.
Quando falamos dos medicamentos da cardiologia, 89% das recomendações não possuem essas evidências.
Já viu algum médico que receita insulina para diabéticos ser chamado de "anti-ciência" ou charlatão? Deveriam ser chamados assim, porque nunca houve um estudo "padrão ouro" sobre a insulina.
Você já tomou uma vacina anti-tetânica? Ela também não tem o "nível máximo" de evidência. Devemos dizer que essa vacina foi feita sem base científica? Os teóricos da conspiração anti-vacina iriam ao delírio.
Nunca fizeram para a insulina ou para a vacina anti-tetânica porque não é necessário. Em artigo científico de 2014, Andrew Anglemeyer, epidemiologista da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, explicou que não existem diferenças significativas de resultados entre estudos observacionais e o "padrão ouro". Em outro estudo, publicado em 2000, Kjell Benson chegou nas mesmas conclusões.
Ou seja, historicamente, os resultados apresentados pelos estudos observacionais coincidem com os "padrão ouro".
Além disso, antes da pandemia, a ciência dizia outra coisa. Angus Deaton, cientista da Universidade de Princeton, EUA, em 2018, explicou que o o padrão ouro não é tão "ouro" como dizem. "Os resultados de RCT podem servir à ciência, mas são um terreno fraco para inferir o que funciona", explicou.
Em artigo de 2017,o cientista Thomas Frieden, nomeado diretor do CDC, órgão norteamericano, por Barack Obama, argumentou em seu artigo científico, publicado na New England Journal of Medicine, que as decisões públicas sobre tratamento não devem ser tomadas com base em RCTs.
Frieden comentou sobre os "custos cada vez mais altos" dos estudos "padrão ouro", além da demora da execução dessas pesquisas. "Essas limitações também afetam o uso de RCTs para questões urgentes de saúde, como surtos de doenças infecciosas", afirmou.
Nos anos recentes, pouco antes da COVID-19, a ciência médica parecia bastante sensata, não é?
O primeiro argumento dos que insistem que não funciona é que alguns dos estudos observacionais eram pre-print. Ou seja, antes da revisão por pares. Depois de revisados, os anti-tratamento mudaram de discurso: passaram a dizer que não era válido porque não é "padrão ouro".
Depois de Didier e de Zelenko, como fica difícil chamar os autores de 113 estudos positivos para a hidroxlicoroquina de malucos, "curandeiros milagrosos" radicais de direita e de fraudadores, a solução encontrada pela mídia e pelos divulgadores científicos foi o silêncio. Não foram publicadas notícias sobre os estudos observacionais de tratamento precoce.
O New York Times, por exemplo, apenas noticiou duas vezes sobre os estudos observacionais. Um que foi posteriormente retratado pela Lancet por conter dados fraudulentos e outro feito no Brasil com uma dose de 1.2 gramas por dia por 10 dias, quatro vezes a dose da proposta por Didier Raoult, e apenas em monoterapia e em pacientes graves, com a doença avançada.
Antes de continuarmos, uma pequena história sobre AIDS entre 1987 e 89
Em 1987 aconteceu uma reunião tensa. Estavam presentes o ativista da AIDS Michael Callen, o Dr Barry Gingell e o Dr Anthony Fauci, o Czar federal sobre a AIDS nos EUA. Michael e Barry imploraram para que Fauci ajudasse a promover o uso do medicamento Bactrim como profilaxia para a pneumonia causada pela doença.
A pandemia de HIV matava muito. O mundo estava assustado e havia um intenso interesse da mídia. Os dois explicaram para Fauci que médicos da linha de frente, seguindo o protocolo de Joseph Sonnabend, um cientista Sul Africano, estavam usando Bactrim de forma bastante eficaz, com alta porcentagem de sucesso.
Todas as evidências científicas do funcionamento do medicamento foram recusadas por Fauci. Sonnabend era visto como controverso, polêmico, e como alguém que atacava a ciência. Não havia um estudo "padrão ouro" de Bactrim. Ao mesmo tempo, ninguém teve pressa em fazer um ensaio clínico deste tipo.
Foi uma reação estranha, porque alguns anos antes, quando o Dr Fauci estudava outra doença, a Granulomatose de Wegener, ele desenvolveu um tratamento com apenas 18 pacientes. Foi um estudo puramente anedótico, sem controles e sem placebo. Os resultados foram comparados apenas com dados históricos e sua terapia se tornou padrão de atendimento, sem encontrar barreiras.
Enquanto essa discussão prosseguia, o concorrente do Bactrim, o lucrativo AZT, de uma grande indústria farmacêutica, com pouca eficiência e fortes efeitos colaterais, pelo custo US$ 8.000 por ano por paciente, foi aprovado em um tempo recorde de apenas 20 meses. Era um reaproveitamento. O AZT foi originalmente pensado como uma droga contra o câncer durante a década de 60, mas foi arquivada quando se concluiu que não era suficientemente efetiva.
Foi apenas dois anos depois, em 1989, que as evidências do barato Bactrim foram aceitas e a recomendação aconteceu. Neste período, 17 mil vidas foram perdidas.
Sean Strub conta parte dessa história em uma reportagem no Huffington Post. Este horror é bem documentado e narrado em diversos livros e reportagens.
Como este escândalo médico ocorreu em pessoas com AIDS, atingindo principalmente a comunidade homossexual, boa parte da população entendeu essas mortes como castigo divino para pecadores. A história foi esquecida, lições não foram aprendidas e não foi feita e nenhuma reforma na ciência médica.
O caminho fácil do Remdesivir, da Gilead, ao "padrão ouro"
O Remdesivir, concorrente da hidroxicloroquina, foi desenvolvido para o Ebola. Não teve muito sucesso em sua missão inicial e foi reaproveitado para a COVID-19.
A fabricante é a Gilead, uma gigante farmacêutica com 11 mil funcionários e um monstruoso faturamento de US$ 22 bilhões.
No primeiro trimestre de 2020, conforme o nome do medicamento ganhava notoriedade durante a pandemia, a Gilead aumentou seu gasto com lobby na administração e no congresso dos EUA.
Com custo de fabricação de cerca de 10 dólares, o Remdesivir custa 3 mil dólares por paciente para tratar da COVID-19.
Sendo medicamento com "custo de ouro", o Remdesivir começou diretamente com o ensaio caro "padrão ouro".
Entretanto, como noticiou o Washington Post, esse estudo teve, durante o teste clínico, uma mudança de métrica, de mortalidade para tempo de recuperação. O medicamento não reduzia as mortes, mas apenas reduzia o tempo de recuperação de quem não iria morrer, de 15 dias, para 10 dias.
E mesmo fracassando na redução da mortalidade, mas por ter um estudo RCT, o governo dos EUA, em 29 de abril, anunciou o Remdesivir como "padrão de tratamento".
A fabricante é a Gilead, uma gigante farmacêutica com 11 mil funcionários e um monstruoso faturamento de US$ 22 bilhões.
No primeiro trimestre de 2020, conforme o nome do medicamento ganhava notoriedade durante a pandemia, a Gilead aumentou seu gasto com lobby na administração e no congresso dos EUA.
Com custo de fabricação de cerca de 10 dólares, o Remdesivir custa 3 mil dólares por paciente para tratar da COVID-19.
Sendo medicamento com "custo de ouro", o Remdesivir começou diretamente com o ensaio caro "padrão ouro".
Entretanto, como noticiou o Washington Post, esse estudo teve, durante o teste clínico, uma mudança de métrica, de mortalidade para tempo de recuperação. O medicamento não reduzia as mortes, mas apenas reduzia o tempo de recuperação de quem não iria morrer, de 15 dias, para 10 dias.
E mesmo fracassando na redução da mortalidade, mas por ter um estudo RCT, o governo dos EUA, em 29 de abril, anunciou o Remdesivir como "padrão de tratamento".
Na sequência, a Gilead fechou um acordo de US$ 1.2 bi com o governo dos EUA para fornecimento da medicação. Logo a empresa fez mais um acordo, desta vez com a União Europeia, de US$ 1.0 bi. Ao mesmo, a Gilead pagava uma multa de US $ 97 milhões ao Departamento de Justiça dos EUA por supostamente pagar propinas ilegais.
Além disso, enquanto várias notícias nos bombardeiam sobre os efeitos colaterais fortíssimos da hidroxicloroquina, o que é falso segundo diversos estudos, o Remdesivir, que tem comprometido seriamente os rins de pacientes tratados com este medicamento, deixando boa parte dos que sobreviveram em máquinas de diálise, não tem recebido a mesma atenção da mídia em relação aos efeitos colaterais.
E em vez de noticiar os pacientes em máquinas de diálise, a New England Journal of Medicine, o jornal médico de maior fator de impacto do mundo, teve uma abordagem amigável e publicou um editorial sobre o medicamento: "Remdesivir: um primeiro passo importante", dizia o título.
Além disso, enquanto várias notícias nos bombardeiam sobre os efeitos colaterais fortíssimos da hidroxicloroquina, o que é falso segundo diversos estudos, o Remdesivir, que tem comprometido seriamente os rins de pacientes tratados com este medicamento, deixando boa parte dos que sobreviveram em máquinas de diálise, não tem recebido a mesma atenção da mídia em relação aos efeitos colaterais.
E em vez de noticiar os pacientes em máquinas de diálise, a New England Journal of Medicine, o jornal médico de maior fator de impacto do mundo, teve uma abordagem amigável e publicou um editorial sobre o medicamento: "Remdesivir: um primeiro passo importante", dizia o título.
No caminho difícil da hidroxicloroquina ao "padrão ouro", entra em cena uma atriz pornô. E o mundo preferiu acreditar nela.
Em 22 de maio, um estudo sobre a hidroxicloroquina foi publicado na Lancet, o segundo jornal de medicina mais prestigiado do mundo. O principal nome era o Dr. Mandeep Mehra, professor de medicina em Harvard, EUA. A pesquisa informava que usou dados de 96 mil pacientes em 671 hospitais do mundo todo.
Concluiu que a hidroxicloroquina, promovida por Donald Trump, aumentava o risco de morte. Além disso, que o medicamento gerava arritmia cardíaca perigosa. Houve uma coincidência: o resultado encaixava-se como uma sinfonia na narrativa da grande imprensa sobre os perigos do medicamento.
Esse estudo se tornou manchete em todos os grandes jornais do mundo, junto com críticas ao Trump, presidente dos EUA, por ser anti-ciência e trazer riscos aos norteamericanos por promover este medicamento.
Dia 25 de maio, a OMS (Organização Mundial da Saúde), baseada nestes resultados, interrompeu seus estudos "padrão ouro" sobre a hidroxicloroquina. O The Guardian, um dos mais importantes jornais da Europa, além de noticiar a parada dos testes clínicos, qualificou o professor Didier Raoult como "polêmico".
Além do estudo da OMS, diversos outros "padrão ouro" mundo afora também foram interrompidos devido ao estudo da Lancet. Entre eles, o Hycovid e o Discovery, ambos na França. E um detalhe importante: os resultados parciais de ambos mostravam resultados positivos para os pacientes que tomaram os medicamentos, comparados com o placebo, quando as pesquisas foram interrompidas.
Estudo Hycovid, “padrão ouro”, mostrava 46% menos mortes para o grupo tratamento quando foi interrompido.
Quatro dias depois da publicação, em 26 de maio, o experiente professor Didier Raoult
foi ao seu Twitter e fez uma acusação bombástica: disse que os dados do estudo da Lancet eram manipulados ou falsificados.
É, certamente, uma acusação de quem precisa ter muita certeza antes de fazer. Ele simplesmente disse que uma das mais prestigiadas revistas médicas do mundo publicou um estudo falso, e de um professor de Harvard, uma das mais importantes universidades do mundo.
Com uma acusação deste nível, ou os dados eram realmente falsos, ou a carreira de Raoult acabaria naquele momento. Foi um momento tenso da ciência.
É, certamente, uma acusação de quem precisa ter muita certeza antes de fazer. Ele simplesmente disse que uma das mais prestigiadas revistas médicas do mundo publicou um estudo falso, e de um professor de Harvard, uma das mais importantes universidades do mundo.
Com uma acusação deste nível, ou os dados eram realmente falsos, ou a carreira de Raoult acabaria naquele momento. Foi um momento tenso da ciência.
Com o clima favorável a chamar de charlatão, falsificador e censurar qualquer um que diga que a hidroxicloroquina funciona, David Gorski, professor de medicina, pesquisador, e que ostenta com orgulho o cargo de editor do site sciencebasedmedicine.com, onde ele se propõe a ensinar ao mundo o que é medicina baseada em boa ciência, resolveu ofender Raoult na mesma hora.
Além de colocar, sem constrangimento algum, um ícone de fezes para se referir a Raoult, Gorski o chamou de mentiroso e patético.
Logo cientistas sérios se mobilizaram sobre o alerta levantado por Raoult. Foram pesquisar de onde vieram os dados. A origem era uma empresa obscura chamada Surgisphere. Entre os dados usados para produzir o estudo constavam hospitais inexistentes. Uma das princiais funcionárias da Surgisphere era uma atriz pornô.
É um dos mais pornográficos escândalos da ciência até o momento. Com esses dados descobertos, finalmente as histórias de bastidores com a hidroxicloroquina começaram a ser publicadas na grande mídia.
No fim das contas, o estudo da Lancet, que envolvia um atriz pornô e um conceituado professor de Harvard, depois de imensa pressão da comunidade científica, foi retirado do ar menos de duas semanas depois de publicado. Didier Raoult estava certo.
“Há pessoas que tentaram e conseguiram fazer governos e a OMS acreditarem que um medicamento que tem 70 anos, um dos dois medicamentos mais prescritos na humanidade, matou 10% das pessoas a quem foi dado”, comentou Raoult recentemente em uma entrevista.
“É algo que deve nos levar a refletir sobre o estado de nossa sociedade, que pode ser enganada de forma incrível”, afirmou o professor.
Ainda sobre o caso, duas curiosidades: a primeira é que David Gorski ainda não pediu desculpas a Raoult. A segunda é que ao contrário dos vídeos do Frontline Doctors, médicos dos EUA que relataram bons resultados com a hidroxicloroquina e foram censurados no Youtube por "desinformação", as entrevistas de Mandeep, o autor do estudo com dados fajutos publicados na Lancet, falando pornografias sobre hidroxicloroquina, continuam no ar, disponíveis no Youtube.
No caminho esburacado da hidroxicloroquina ao "padrão ouro", mais um estudo polêmico é publicado na NEJM
No dia 2 de junho de 2020, dois dias antes da farsa na Lancet ser retratada pelo próprio jornal, foi publicado um estudo "padrão ouro" na NEJM (New England Journal of Medicine), a publicação e maior fator de impacto do mundo. Foi originalmente pensado para envolver 1300 pacientes, mas contou com pouco mais de 800.
Originário da Universidade de Minnesota, EUA, liderado por David Boulware, era sobre profilaxia pós exposição. É quando é dado o medicamento para as pessoas que tiveram contato recente com alguém contaminado. Já é um dos mais polêmicos estudos da história da medicina.
Os dados do estudo foram retratados da seguinte maneira: apesar de apresentar resultados positivos para os que tomaram a hidroxicloroquina, eram apenas resultados muito modestos e estatisticamente insignificantes, ou seja, eles poderiam ter ocorrido ao acaso.
Representava o enterro definitivo da hidroxicloroquina. É o estudo que mais viralizou no meio médico como prova definitiva que o medicamento não funciona. Em qualquer debate as pessoas enviavam este link.
Afinal, era um estudo randomizado, duplo cego, controlado por placebo, e publicado na mais conceituada revista de medicina do mundo.
O argumento era que um estudo "padrão ouro", por ser um nível de evidência mais alto, anularia os resultados positivos dos estudos observacionais.
Diversas polêmicas, que duram até hoje, ocorreram sobre este estudo. Enquanto o estudo observacional, feito em São Paulo, da operadora de Saúde Prevent Senior, com resultados positivos para a hidroxicloroquina, foi rejeitado pela comunidade médica devido o diagnóstico dos pacientes não ter sido por testes de COVID-19, mas sim por sintomas, o estudo da Universidade de Minnesota, também deficiente em testes, mas sem resultado positivo, foi festejado, sem nenhuma crítica, por boa parte da comunidade médica e científica.
Acredite, o método do estudo foi uma enquete de internet. Enviaram pelo correio as medicações e os placebos, e as pessoas respondiam por formulários seus sintomas. Um processo menos preciso do que o da Prevent Senior, onde enviavam por courier os medicamentos para a casa dos pacientes e verificavam os sintomas por telemedicina em vídeo, em entrevistas com os pacientes, ou por exames avançados de lesões nos pulmões. Além disso, no caso de São Paulo, se os pacientes pioravam, eles seriam internados no próprio hospital da operadora, com mais facilidade para acompanhar os desfechos. Já a virtude do estudo de Boulware era ser randomizado.
Este estudo de Boulware, por ter virado referência, gerou reclamações pesadas da equipe de Raoult. Eles enviaram uma Manifestação de Preocupação para a editora. Terminavam assim: "Por quanto tempo abusará da nossa paciência? Os preconceitos demonstrados nos estudos sobre a COVID-19 foram além, como na Lancet, de tudo o que foi visto até agora. Por favor, devolva-nos uma revista que possamos utilizar para a educação médica".
A diferença de abordagem também pode ser comparada com o caso da aprovação do Remdesivir. No caso do medicamento da Gilead, o estudo que foi utilizado para sua aprovação pela FDA mostrava resultados modestos e não estatisticamente significantes, mas isso não impediu a aprovação, gerando movimentações nas bolsas de valores.
Mas o estudo de Boulware, na verdade, confirma cientificamente o funcionamento da hidroxicloroquina
Todo mundo está ficando bastante em casa, com medo, evitando de sair ao máximo e praticando distanciamento social. Entretanto, a pandemia chegou para todos e algo inédito está ocorrendo na ciência: um grande número de pessoas passou a estudar as publicações científicas.
Antes, os estudos de medicamentos ficavam bastante restritos em pequenos grupos de pesquisadores e jornais médicos. Hoje uma grande quantidade de cientistas de diversas áreas estão conferindo todas as publicações em detalhes.
O processo de revisão por pares é, sem dúvida alguma, um dos valores mais importantes da ciência. Assim muitos cientistas, vendo a hidroxicloroquina sendo negada para a população, e espantados com o medicamento mostrar resultados significativos em estudos observacionais e não mostrar o mesmo desempenho em estudos "padrão ouro", contrariando a lógica e a história da medicina, resolveram ir a fundo exatamente no ponto que estava barrando: os estudos randomizados, duplo cego e controlados por placebo. Ou seja, esses cientistas foram jogar no campo do adversário.
Marcio Watanabe, professor de estatística na Universidade Federal Fluminense e doutor em estatística pela USP, uma das mais prestigiadas universidades da América Latina, foi um dos cientistas que revisou o trabalho de Boulware na NEJM.
Com uma análise aprofundada, ele constatou que os pacientes que receberam o medicamento mais cedo tiveram efeitos maiores. O estudo de Boulware estava interpretando e apresentando de maneira errada os seus próprios dados. Quando leva muito tempo para a profilaxia e misturam todos pacientes ao longo do tempo, efeito perde potência estatística.
Já quando os dados são analisados levando em conta o intervalo entre a exposição e o início do tratamento, eles revelam um padrão claro: os pacientes que começaram o tratamento mais cedo tiveram resultados melhores do que os que começaram o tratamento mais tarde.
Os dados indicam que tomar a hidroxicloroquina logo no dia da exposição poderia levar a uma redução de contágio sintomático de mais de 50%, concluiu Watanabe. Tempos curtos em profilaxia pós exposição é o normal da ciência médica. Em casos de exposição ao vírus da AIDS, os tratamentos profiláticos, para terem efeitos, envolvem poucas horas, não dias.
Eu entrevistei Watanabe para saber o resultado de sua revisão enviada para a NEJM. "Eu nunca tive resposta da NEJM, nem negativa nem positiva. Eles disseram que só analisariam a carta em um momento futuro, sem dar uma data", afirmou o professor do Rio de Janeiro.
O erro na conclusão de Boulware é tão evidente que outros cientistas fizeram praticamente a mesma análise.
Um grupo liderado por David Wiseman, cientista de Dallas, juntamente com outros quatro cientistas dos EUA, incluindo alguns do centro de excelência médica Henry Ford, produziu uma segunda revisão sobre o mesmo estudo da NEJM. Eles chegaram em números semelhantes ao Watanabe.
Em uma terceira revisão, Juan Luco, professor da Universidad Nacional de San Luis, na Argentina, também analisou os dados brutos e chegou em números estatisticamente significantes. "Nesse caso, mostra que a conclusão publicada do grupo, de que o HCQ não previne os sintomas infecciosos do tipo COVID, era fundamentalmente falha e deveria ser reconsiderada", afirmou no estudo.
Eu perguntei a Juan se ele enviou sua revisão ao NEJM. "Não enviei nada para o NEJM. É impossível esperar honestidade e veracidade científica deles sobre a hidroxicloroquina", respondeu.
Em uma quarta revisão, mais seis cientistas liderados por Alexander Chuan Yang, daescola de medicina de Wayne State University, chegaram às mesmas conclusões: "No entanto, a nossa re-análise dos dados sugere que uso de HCQ para o Covid-19 é sensível ao tempo", afirmaram.
Em uma quinta revisão, o matemático Phill Birnbaum, da Sabermetric Research, postou em seu blog a interpretação falha do estudo. "Em outras palavras: eles pararam o estudo exatamente quando os resultados estavam começando a aparecer".
Ou seja, nós temos diversos cientistas importantes que olharam os dados, analisaram, escreveram, colocaram seus nomes e suas reputações em jogo e concluíram que o estudo de Boulware mostra resultados errados.
O estudo de Boulware, como está, é positivo dentro da margem de erro. E com a análise correta, ele torna-se positivo fora da margem de erro. Mas todas as revisões foram ignoradas.
E o que se sabe até o momento é que ninguém foi capaz de explicar, pela matemática, que essas revisões estão erradas.
Em outras palavras: isso é a comprovação científica do funcionamento da hidroxicloroquina em um estudo "padrão ouro".
E outra coisa que se sabe é que não faria sentido todos esses cientistas dessas revisões estarem em uma grande conspiração global corrupta para promoção da hidroxicloroquina. Afinal, é um medicamento genérico, barato, sem patentes e fabricado por centenas de laboratórios em todo mundo.
A pergunta que fica sobre este caso é: por que a NEJM ignorou todas essas revisões que alteram o resultado?
E há uma segunda pergunta: por que a mídia tradicional não está noticiando sobre este assunto e cobrando uma resposta da NEJM?
Antes de continuarmos, uma breve explicação sobre significância estatística
As pessoas que vivem em democracias tem um entendimento fácil sobre o que é significância estatística ao ouvir notícias sobre pesquisas eleitorais.
"O candidato José está liderando com 46% das intenções de voto. Em segundo lugar está o candidato João com 40%. Eles estão empatados dentro da margem de erro que é de 3%. Foram entrevistados 1200 eleitores.", diz a notícia.
Significância estatística é a margem de erro. Ou seja, mesmo com José liderando, existe a possibilidade, pequena, de eles estarem empatados com 43% cada um e o resultado ter sido ao acaso.
Mas se a pesquisa tivesse sido feita 2 ou 3 mil eleitores, em vez de 1200, a margem de erro seria menor, de 1% ou 2%. Neste caso, o candidato João estaria, realmente, liderando, e assim seria noticiado. A chance de ser um resultado ao acaso seria muito menor.
Agora acompanhe comigo. No mesmo dia sai outra pesquisa eleitoral com resultado semelhante. José está com 46% e João com 40%. Também com a margem de erro de 3% e 1200 eleitores entrevistados.
A partir desse momento, José realmente está liderando. As duas pesquisas o colocaram na frente. Não é mais por acaso, porque a margem de erro reduziu em uma estatística combinada.
Ou seja, nós temos duas pesquisas "dentro da margem de erro", mas quando combinadas, a margem de erro reduziu. José não está mais liderando "ao acaso".
Na pesquisa médica o princípio é o mesmo. Marcio Watanabe fez alguns cálculos de exemplo. Um dos medicamentos "comprovados cientificamente" foi a Dexametasona. Reduziu em 30% as mortes. A Dexametasona funciona apenas para pacientes graves, entubados ou em suporte de oxigênio.
O estudo teve mais de 2 mil pacientes. Se ele tivesse sido feito com o número de pacientes semelhantes ao do estudo da Universidade de Minnesota com a hidroxicloroquina, com 821 pacientes, a Dexametasona não seria "comprovada cientificamente". E qualquer médico que falasse desse medicamento seria, claro, um charlatão.
Todos os estudos "padrão ouro" da hidroxicloroquina, em profilaxia pré exposição, pós exposição e tratamento precoce, trazem resultados positivos para os pacientes. É a comprovação científica no mais alto nível de evidência científica
"Está cada dia mais difícil para eles dizerem que a hidroxicloroquina não funciona", me disse Flavio Abdenur. Havia acabado de sair mais um estudo "padrão ouro" quando ele me mandou esta mensagem.
Flavio é matemático. Tem doutorado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), foi professor universitário e hoje trabalha com análise estatística de dados no setor privado. Ele faz parte de um grupo de brasileiros virtuosos do qual Watanabe faz parte. Neste grupo estão médicos, biólogos, virologistas, economistas, matemáticos e estatísticos.
Eles resolveram estudar com profundidade as opções de tratamento. Flavio demonstrou interesse em estudar o assunto por preocupação. "Meus pais são do grupo de risco", disse.
Flávio montou esse gráfico e publicou em seu facebook. Sendo transparente, ele também disponibilizou o arquivo com todos os dados para quem possui interesse em se aprofundar.
Na parte de cima, os estudos que dão resultados positivos para os pacientes. Na parte inferior, os que dão resultados negativos. Nenhum dá resultado negativo. Todos dão resultados positivos.
Sim, isso mesmo. Em todos os estudos "padrão ouro", os pacientes que receberam hidroxicloroquina tiveram resultado superior comparado ao grupo placebo.
Mas todos, isolados, pelas estatísticas, dão "empate dentro da margem de erro", por serem poucos pacientes. Mesmo com alguns benefícios sendo de valores altos, como os 37% na redução de necessidades de hospitalizações do estudo de Skipper. Ou como os 30% de redução de mortes no estudo de Mitja. Isso porque todos estes randomizados são bastante pequenos. Seus grupos têm no máximo umas poucas centenas de pacientes cada. No jargão da área, são estudos estatisticamente “underpowered”.
E quando combinados, saem desta margem. Ou seja, a hidroxicloroquina é a moeda que quando jogada para cima cai sempre do mesmo lado. Sempre. Não existe mais a possibilidade dos resultados serem "ao acaso".
"Lembrando que esses estudos randomizados usaram apenas HCQ. Uma longa e crescente série de estudos observacionais indica que, em combinação com outros remédios, o efeito é mais forte, desde que usados logo no início dos sintomas", afirmou Flavio.
Mais uma analogia para que todos entendam: foi organizada uma corrida com dois carros. O carro hidroxicloroquina e o carro placebo. O vencedor só é declarado depois que o carro que lidera completar 50 km.
A corrida teve cinco largadas. Mas o juiz interrompeu todas as cinco depois de 10km percorridos. Mas em todas elas, quando houve a interrupção, o carro hidroxicloroquina liderava.
Quando você soma as cinco corridas, o carro hidroxicloroquina completou os 50 km na liderança.
Sim, isso mesmo. Em todos os estudos "padrão ouro", os pacientes que receberam hidroxicloroquina tiveram resultado superior comparado ao grupo placebo.
Mas todos, isolados, pelas estatísticas, dão "empate dentro da margem de erro", por serem poucos pacientes. Mesmo com alguns benefícios sendo de valores altos, como os 37% na redução de necessidades de hospitalizações do estudo de Skipper. Ou como os 30% de redução de mortes no estudo de Mitja. Isso porque todos estes randomizados são bastante pequenos. Seus grupos têm no máximo umas poucas centenas de pacientes cada. No jargão da área, são estudos estatisticamente “underpowered”.
E quando combinados, saem desta margem. Ou seja, a hidroxicloroquina é a moeda que quando jogada para cima cai sempre do mesmo lado. Sempre. Não existe mais a possibilidade dos resultados serem "ao acaso".
"Lembrando que esses estudos randomizados usaram apenas HCQ. Uma longa e crescente série de estudos observacionais indica que, em combinação com outros remédios, o efeito é mais forte, desde que usados logo no início dos sintomas", afirmou Flavio.
Mais uma analogia para que todos entendam: foi organizada uma corrida com dois carros. O carro hidroxicloroquina e o carro placebo. O vencedor só é declarado depois que o carro que lidera completar 50 km.
A corrida teve cinco largadas. Mas o juiz interrompeu todas as cinco depois de 10km percorridos. Mas em todas elas, quando houve a interrupção, o carro hidroxicloroquina liderava.
Quando você soma as cinco corridas, o carro hidroxicloroquina completou os 50 km na liderança.
A terra não é plana
É simples. Para alguém olhar o gráfico do Flavio e achar uma explicação com o objetivo de afirmar que a hidroxicloroquina não funciona, é necessário ser tão criativo quanto as pessoas que olham para a foto do nosso planeta e acham um modo de continuar dizendo que a terra é plana.
Professor Harvey Risch, de Yale, fez uma meta-análise com o mesmo princípio
A junção de estudos para uma análise geral chama-se meta-análise. É o mais alto nível de evidência científica. O premiado professor Harvey Risch, de Yale, uma das mais importantes universidades do mundo, em conjunto com mais outros dois professores renomados, produziu um estudo com o mesmo princípio. Esses cientistas foram mais longe que Flávio e fizeram todas as contas, não apenas uma explicação gráfica.
É também apenas baseado em estudos "padrão-ouro". Objetivo? Eliminar o último argumento dos que negam o funcionamento da medicação.
É também apenas baseado em estudos "padrão-ouro". Objetivo? Eliminar o último argumento dos que negam o funcionamento da medicação.
A listas de todos os estudos estão na esquerda, indicando benefícios para os que tomaram a medicação. Quando combinados, a margem de erro desaparece.
E uma curiosidade: esta meta-análise do professor Harvey Risch viralizou nas redes sociais do Brasil. Isso foi o gatilho para "agências checadoras de fatos" brasileiras exporem todo seu arsenal de infinita estupidez e demonstrarem que se atrevem a contestar do que não entendem.
A Agência Lupa escreveu: "Nenhum estudo duplo-cego e randomizado comprovou, até o momento, a eficácia do medicamento como profilaxia ou tratamento em estágios iniciais da doença. Pelo contrário: estudo publicado na Annals of Internal Medicine, e citado na tal meta-análise, demonstrou que o remédio é ineficaz para tratamento de pessoas não hospitalizadas".
Outra agência, chamada "Aos fatos", mostrou a mesma ignorância ao falar dos estudos usados na meta-análise. "Todos os cinco possuem conclusões que vão contra a eficácia da cloroquina", disseram.
Sim, é verdade. Nenhum estudo sozinho demonstra eficácia além da margem de erro, mas quando combinados, a quantidade de pacientes aumenta e os estudos passam a demonstrar eficácia.
A nota dessa agência ainda deu link para um texto de opinião de Carlos Orsi, um escritor de ficção científica. E pelos milagres que a era da internet gera, esse escritor se sente qualificado o suficiente para dizer que a meta-análise está errada. No texto, Orsi chamava cientistas e médicos de charlatões.
"É um texto patético que mostra que o autor não tem ideia do que é um p-valor ou uma meta análise", afirmou Daniel Tausk, professor de matemática da USP, uma das mais prestigiadas universidades da América Latina.
"Parece que é um pessoal que está acostumado a uns debates meio triviais contra umas pseudociências bizarras e acabaram extrapolando a atitude agressiva para coisas complicadas, fora do escopo do que eles conseguem avaliar", complementou.
E uma curiosidade: esta meta-análise do professor Harvey Risch viralizou nas redes sociais do Brasil. Isso foi o gatilho para "agências checadoras de fatos" brasileiras exporem todo seu arsenal de infinita estupidez e demonstrarem que se atrevem a contestar do que não entendem.
A Agência Lupa escreveu: "Nenhum estudo duplo-cego e randomizado comprovou, até o momento, a eficácia do medicamento como profilaxia ou tratamento em estágios iniciais da doença. Pelo contrário: estudo publicado na Annals of Internal Medicine, e citado na tal meta-análise, demonstrou que o remédio é ineficaz para tratamento de pessoas não hospitalizadas".
Outra agência, chamada "Aos fatos", mostrou a mesma ignorância ao falar dos estudos usados na meta-análise. "Todos os cinco possuem conclusões que vão contra a eficácia da cloroquina", disseram.
Sim, é verdade. Nenhum estudo sozinho demonstra eficácia além da margem de erro, mas quando combinados, a quantidade de pacientes aumenta e os estudos passam a demonstrar eficácia.
A nota dessa agência ainda deu link para um texto de opinião de Carlos Orsi, um escritor de ficção científica. E pelos milagres que a era da internet gera, esse escritor se sente qualificado o suficiente para dizer que a meta-análise está errada. No texto, Orsi chamava cientistas e médicos de charlatões.
"É um texto patético que mostra que o autor não tem ideia do que é um p-valor ou uma meta análise", afirmou Daniel Tausk, professor de matemática da USP, uma das mais prestigiadas universidades da América Latina.
"Parece que é um pessoal que está acostumado a uns debates meio triviais contra umas pseudociências bizarras e acabaram extrapolando a atitude agressiva para coisas complicadas, fora do escopo do que eles conseguem avaliar", complementou.
Professor de Harvard fez uma meta-análise semelhante, apenas sobre profilaxia
Miguel Hernan, professor de Harvard, junto com outros três cientistas espanhóis, produziu, no mesmo princípio de junção dos estudos de Harvey Risch e Flavio Abdenur, outra meta-análise. Esta sobre os randomizados de HCQ como profilaxia. Encontrou também um resultado positivo e estatisticamente significante para os efeitos clínicos.
Este estudo, como não viralizou, não se tornou alvo dos "checadores de fatos".
Uma terceira meta-análise, usando o mesmo princípio, chega nas mesmas conclusões
Um grupo de cientistas que preferiram produzir em anonimato, devido aos diversos números de demissões, ataques à reputações e possíveis futuros cortes de orçamento, produziu uma meta-análise em que um dos pontos foca apenas em trabalhos randomizados, duplo cegos e controlados por placebo.
Incluindo apenas os estudos "padrão ouro" em profilaxia e tratamento precoce, a chance de ser "obra do acaso" é apenas uma em 100, concluíram.
Para comparação, o "cientificamente comprovado" padrão da medicina é se a possibilidade de ser ao acaso for de uma em vinte. Essa barreira foi quebrada diversas vezes.
No gráfico, o mesmo conceito: todos os estudos mostram resultados positivos. Nenhum mostra resultado negativo.
Um grupo de cientistas que preferiram produzir em anonimato, devido aos diversos números de demissões, ataques à reputações e possíveis futuros cortes de orçamento, produziu uma meta-análise em que um dos pontos foca apenas em trabalhos randomizados, duplo cegos e controlados por placebo.
Incluindo apenas os estudos "padrão ouro" em profilaxia e tratamento precoce, a chance de ser "obra do acaso" é apenas uma em 100, concluíram.
Para comparação, o "cientificamente comprovado" padrão da medicina é se a possibilidade de ser ao acaso for de uma em vinte. Essa barreira foi quebrada diversas vezes.
No gráfico, o mesmo conceito: todos os estudos mostram resultados positivos. Nenhum mostra resultado negativo.
Nenhuma dessas meta-análises é revisada por pares ou publicada em alguma revista de "fator de impacto". Ao que parece, ninguém quer publicar. É assunto incendiário. Mas a partir do momento que você tem quatro grupos distintos fazendo a mesma estatística, praticamente com o mesmo método, e chegando no mesmo resultado, um estudo representa a revisão do outro.
Não apareceu ninguém, e nem aparecerá, explicando que esses cálculos estão errados. É matemática e estatística. Não dá para gritar contra números.
Portanto, qualquer pessoa que negue essas meta-análises é um negacionista da ciência.
Repentinamente, cientistas que não davam atenção para a significância estatística dos estudos, passaram a falar sobre isso, mas sobre as máscaras
Recentemente foi publicado um estudo sobre o efeito das máscaras para evitar o contágio do coronavírus. É de cientistas da Dinamarca. É um estudo randomizado. Foram designados 3.030 pessoas para que elas usassem as máscaras, outras 2.994 pessoas foram o grupo controle.
O resultado do estudo é estatisticamente inconclusivo: por si só, ele não basta para mostrar que o uso das máscaras traz benefício significativo para evitar o contágio. Entre os que usaram, 1.8% foi infectado. Entre os que não usaram, 2.1% foi infectado, mas a probabilidade do resultado ser ao acaso é grande.
Eric Topol é médico, cientista e editor chefe do site Medscape, um dos mais importantes websites de medicina no mundo. Ele sempre se colocou contra a hidroxicloroquina. Diversas vezes.
Com o estudo das máscaras não apontando, cientificamente, os benefícios, ele deveria se colocar contra o uso delas pela população, como fez com os estudos randomizados da hidroxicloroquina.
Repentinamente, Topol analisou que um estudo com poucos pacientes não trazem resultados positivos, mas ao que parece, ele só é capaz de fazer essa análise sobre máscaras. "Underpowered", disse.
E o sensato, com esses resultados, não é iniciar uma guerra para proibir o uso de máscaras pela população, mas aguardar mais estudos com mais pacientes. Provavelmente deve possuir resultado positivo. Cerca de 15 a 20% na redução de contágios.
E o sensato, com esses resultados, não é iniciar uma guerra para proibir o uso de máscaras pela população, mas aguardar mais estudos com mais pacientes. Provavelmente deve possuir resultado positivo. Cerca de 15 a 20% na redução de contágios.
Fim primeira parte segunda aqui.
Filipe Rafaeli é um profissional de comunicação, cineasta independente e piloto de acrobacias aéreas.
https://twitter.com/filipe_rafaeli
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Post scriptum
Aos checadores de fatos: a chance da hidroxicloroquina não estar funcionando, segundo a meta análise mais completa, é de 1 em 910 bilhões. Antes de escreverem qualquer coisa, chamem estatísticos que não sejam charlatões que digam que essa e as outras meta-análises que citei estão erradas.
Aos censores das redes sociais: censura é ferramenta dos covardes sem argumentos. Além disso, acontece tradicionalmente ao mesmo tempo em que crimes contra a humanidade são cometidos. Sempre começam queimando livros, depois seguem queimando pessoas. Vocês são garotos mimados de países que nunca passaram por isso. No meu país é uma realidade não muito distante. Tive parentes que foram presos e conheço diversas pessoas que foram torturadas por simplesmente falarem o que não poderia ser dito. Portanto, tomem cuidado com essas decisões, elas poderão ir para os livros de história.
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